As fake news na área obstétrica e os impactos na saúde da mulher


Por: Daniela Alves, Fernanda Gaspar e Isabela Vieira
Inicialmente chamadas apenas de "mitos”, as fake news fazem parte das nossas vidas há muitos anos. Com o passar do tempo e com a popularização da internet e redes sociais, essas desinformações ganharam uma nova roupagem. A disseminação dessas mentiras afeta cada dia mais a saúde da população, como é o caso do campo obstétrico e ginecológico.

As fake news relacionadas à gravidez podem induzir certos medos e comportamentos que afetam momentos da gestação e até do puerpério. Isso acontece porque esses são períodos em que a gestante fica mais fragilizada por conta das mudanças físicas e hormonais. Muitas mulheres já passaram por situações perigosas e inconvenientes, induzidas ou minimizadas por discursos falsos e sem embasamento científico.

Em 2022, a coach fitness e influencer Maíra Cardi viralizou dizendo, em um programa da TV Record, que ela e o marido, na época Arthur Aguiar, haviam feito modulação epigenética. Segundo eles, a técnica consistia em mudar totalmente a alimentação antes da gravidez para zerar a genética de doenças da criança ao nascer. A informação era falsa, pois não é possível zerar doenças genéticas.

A ginecologista e obstetra, Dra. Andrea Luiza Gondim Ribeiro, esclarece: "A modulação epigenética tem sido motivo de estudos atuais, mas ainda não há nenhuma evidência científica de que essa técnica possa provocar qualquer mudança ou qualquer alteração nos genes dos filhos", afirma a médica.

A profissional ainda reforça que essas e outras fake news, como as de que gestantes não podem tomar a vacina da Covid-19 ou fazer procedimentos ortodônticos, são perigosas. "Essa declaração [sobre o tratamento ortodôntico] não é verídica, muito pelo contrário, alguns procedimentos podem e devem ser realizados durante a gravidez. Esse é um tópico que entra, inclusive, na programação do SUS. É um programa que se chama Previne Brasil, e a consulta da gestante ao dentista entra como um fator de assistência pré-natal. [...] A questão da vacinação, em especial a da COVID-19, muitas grávidas não quiseram se vacinar, o que poderia ter prejudicado bastante a gravidez", afirma Dra Andrea Luiza Gondim Ribeiro.

Falas como a de Maíra Cardi, que não apresentam nenhum embasamento científico comprovado, podem influenciar mulheres a tomarem atitudes equivocadas, gerando prejuízos permanentes.

Além de afetarem a gestação, as fake news podem influenciar as decisões da mulher em relação ao parto. Uma pesquisa realizada pela FioCruz em 2015 revelou que, no Brasil, 83% dos partos do setor privado eram por meio de cesarianas. No SUS, o número era de 43%.

Os resultados do estudo são alarmantes porque, segundo recomendações da OMS, a taxa de cesariana não deveria passar de 15%, pois, segundo pesquisas, a realização da cesariana sem indicação pode aumentar risco de óbito na infância.

Apesar de as mulheres terem o direito de escolha com relação a esse momento, fica claro como a desinformação e falas exageradas direcionadas ao parto natural podem induzir as gestantes ao medo, gerando insegurança na hora de dar à luz.

Renata Ramos, de 35 anos, deu à luz seus dois filhos por meio de parto natural e conta que, antes de ser mãe, não tinha muito conhecimento sobre as etapas da gravidez e era acostumada a ouvir e acreditar em muita desinformação. "Eu percebi diversas coisas que eu escutava, como o bebê não ter passagem, que precisava cortar o nosso períneo para a criança sair, empurrar a barriga, que precisava de um soro, de analgésico. Eu achava que esses eram procedimentos normais para todos os casos, e isso hoje eu entendo como fake news, porque o meu parto foi totalmente natural", afirma a pedagoga.

A disseminação de desinformação também pode abalar o emocional da mulher, que já passa por situações delicadas durante a gravidez. "As fake news durante o pré-natal podem interferir emocionalmente ou até fisicamente, o que, com certeza, vai complicar o momento mais bonito do processo, que é o parto", explica a Dra Andrea Luiza Gondim Ribeiro.

Para evitar essas dúvidas e permitir à mãe uma gestação e um parto tranquilos e seguros, o acompanhamento gestacional é primordial e indispensável na vida da gestante. A Lei Federal n° 9.263, de 1996, determina que a gestante tem direito a acompanhamento especializado durante a gravidez, pois o SUS tem a obrigação de garantir atendimento em todos os seus ciclos vitais, que inclua a assistência à concepção e contracepção, o atendimento pré-natal e a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato.

Para completar, Renata Ramos abre sua intimidade, revelando uma visão pessoal em relação à importância da saúde mental da mulher nesse período. “O emocional é a base para você criar um bom filho e passar pelo puerpério de uma forma mais leve” finaliza a professora.

Para evitar fake news, cheque as fontes de todas as informações e, em caso de dúvidas ou sintomas diferentes, procure orientações médicas.

As fake news na área obstétrica e os impactos na saúde da mulher