Entenda como as Fake News são usadas para instalar pânico moral e manipular eleições


Por: Daniela Alves, Fernanda Gaspar e Isabela Vieira
Com a globalização, o mundo tem experimentado o acesso ilimitado de informação. Esse avanço trouxe diversos benefícios como, por exemplo, a democratização da informação e a conectividade ao redor do mundo. Entretanto, assim como já vimos anteriormente, o uso dessa tecnologia também pode acabar prejudicando a sociedade.

Atualmente temos acesso a múltiplos conteúdos ao mesmo tempo, tornando a leitura moderna preguiçosa e gerando desinformação em massa. Esse é o fenômeno que temos vivenciado no Brasil ultimamente, com manchetes sensacionalistas que buscam chamar a atenção do público, sabendo que é incomum o leitor parar para, de fato, ler a matéria completa.

Infelizmente, algumas dessas “notícias” vão além da busca por visualizações e, durante o período das eleições, a produção de desinformação tomou uma proporção descabida com o objetivo de instaurar pânico moral e criar um ambiente alarmista para descredibilizar candidatos a ou b. Além disso, de 2022 em diante, as inteligências artificiais e softwares sofisticados se tornaram ferramentas muito utilizadas para criar vídeos, áudios e imagens falsas disseminando fake news com roupagens mais críveis.

Temos como exemplos disso a “mamadeira sexual, a foto editada de Manuela D’Avilla usando camisa com estampa “Jesus é travesti” e o fechamento de igrejas. Todas essas mentiras têm em comum o objetivo de gerar reações de ódio, afetando o cenário político e social por meio da polarização.

Segundo um relatório publicado pela Avast, empresa de cibersegurança, 79% dos brasileiros encontraram ou receberam notícias falsas durante as eleições de 2022. Mas, quais são os tipos de Fake News predominantes? Como influenciam os eleitores?

Geralmente, são notícias relacionadas principalmente a crianças, religião e tópicos tabus. Segundo o estudo "Folk devils and moral panics", realizado pelo pesquisador Stanley Cohen, o pânico moral ocorre quando um episódio, pessoa ou grupo de pessoas surge e acaba sendo definido como uma ameaça a determinados valores e interesses sociais.

Um exemplo dessa manifestação é o “kit gay”, supostamente criado por Fernando Haddad (PT). Na verdade, o projeto se chamava 'Escola sem homofobia' e era voltado a educadores e não às crianças. O livro 'Aparelho Sexual e Cia' ganhou notoriedade durante a polêmica, mas não fez parte do projeto e não foi usado em escolas.

O professor e doutor em psicologia Ricardo Mattos explica que notícias falsas de cunho conservador e moralista, relacionadas à sexualidade e gênero, ferem uma lógica patriarcal conservadora que está na raiz do povo brasileiro, fazendo com que muitos políticos usem isso como ferramenta para colocar oponentes como colaboradores de pautas vistas como imorais, gerando apoio para si mesmos.

Em um espectro regional temos a vereadora Viviane de Aquino, mais conhecida como Vivi da Rádio, que em 2020 afirmou em áudios que a então candidata ao cargo de prefeita na cidade de Taubaté, Loreny Caetano (Solidariedade), iria implementar liberação de drogas e banheiro unissex em escolas.

“Preciso de vocês militando comigo agora. Essa menina quer implantar banheiro unissex nas escolas, ideologia de gênero para nossas criancinhas, a liberação de aborto, de drogas nas escolas. Se vocês não vierem na luta junto comigo, e a gente perder essa eleição, depois eu não consigo ajudar”, teria dito Viviane nos áudios enviados a um dirigente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Taubaté.

A justiça eleitoral condenou a vereadora a pagar uma multa de R$ 4.180,00 por difusão de afirmações inverídicas, conforme apontou o juiz Érico di Prospero Gentil Leite. A autoridade destacou que a republicana deixou claro que a intenção era difundir o pensamento a um número irrestrito de pessoas, usando termos plurais como “vocês”.

O professor e doutor em Ciências da Comunicação, Galvão Júnior, destaca o papel da educação no combate a notícias falsas. “Educação é a chave da transformação e a falta de preocupação com essa área demonstra que muito pouco ou quase nada vai mudar. Ela liberta e não falar sobre isso é uma forma de os grupos de poder manterem o controle sobre as pessoas” afirma o docente.

O professor Ricardo Mattos afirma que, no mundo contemporâneo, mais vale estar desinformado e se sentir acolhido do que vivenciar uma crítica da realidade solitária, tornando-se confortável a visão distorcida da verdade.