O primeiro movimento anti vacina do Brasil

Por Miguel Santos

Desde o surgimento da pandemia de Covid-19, uma parcela significativa da população tem expressado dúvidas em relação às campanhas de vacinação, gerando grupos de resistência a este crucial método de prevenção. Essa oposição muitas vezes é fundamentada em um negacionismo científico que se manifesta em nossa sociedade.

Entretanto, movimentos de resistência como estes não são novidade no Brasil. O embate contra epidemias, mudanças sociais, a batalha entre informações verídicas e fake news, bem como a presença de negacionistas, são temas que ecoam não apenas em 2020, mas também em eventos históricos como a Revolta da Vacina, ocorrida em 1904 na cidade do Rio de Janeiro.

A revolta
No início do século XX, o Rio de Janeiro era a capital do país, com cerca de 800 mil cidadãos. Contudo, a cidade enfrentava uma série de desafios, especialmente no que diz respeito à questão sanitária. Desde o final do século XIX, várias discussões foram travadas para lidar com esses problemas, e uma das propostas mais debatidas era a necessidade de reformar e modernizar a capital.

Porém, somente sob a presidência de Francisco de Paula Rodrigues Alves é que essa iniciativa ganhou força. Ele havia defendido essa agenda durante sua campanha eleitoral e, ao assumir o cargo, encarregou o arquiteto e então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos, de dar continuidade a esse projeto.

O estopim da rebelião popular foi a lei que determinava a obrigatoriedade de vacinação contra a varíola, conduzida por Oswaldo Cruz. Essa medida já era impopular entre muitos cidadãos, principalmente devido à falta de compreensão sobre o assunto e à disseminação de desinformação na época. No entanto, a indignação da população só se tornou generalizada quando, em 9 de novembro, a imprensa noticiou que a nova lei também impunha restrições aos não vacinados, como a proibição de matrícula em escolas, casamento, viagens, entre outros.

Os protestos tiveram início em 10 de novembro, no Largo do São Francisco, e rapidamente se espalharam para outras áreas da cidade. O momento mais tenso da revolta ocorreu em 13 de novembro, com confrontos violentos entre os manifestantes e as forças policiais. Saques, vandalismo e tiroteios marcaram esse dia.

As manifestações chegaram ao fim em 16 de novembro, quando o governo decretou estado de sítio, e tanto a polícia quanto o exército foram mobilizados para reprimir os manifestantes. Ao final, mais de 100 pessoas ficaram feridas, 31 perderam a vida e 461 foram deportadas para o Acre.

Considerada por muitos como o primeiro movimento anti-vacina no Brasil, a Revolta da Vacina foi uma manifestação motivada pela insatisfação popular com a campanha de vacinação obrigatória.





Em nossas matérias abordamos as fake news sobre as vacinas, um dos métodos mais eficazes de combater as doenças e infecções. Um tema recheado de polêmicas, dúvidas e desinformações. O foco é analisar essas notícias falsas, dissertando sobre o impacto delas e como combater.
O primeiro movimento anti vacina do Brasil || Miguel Santos
As duas faces sobre as vacinações do COVID-19 || Nicollas Rufino
Como são feitas as vacinas? Entenda de uma vez por todas || João Mendes
Como Pinda está lidando com a dengue || Elifas Magalhães