A Pandemia Oculta: Como as Fake News Agravaram a Crise do Coronavírus?

Por Mayara Abreu

As fake news impactaram a saúde pública durante a pandemia de COVID-19 com a disseminação de informações imprecisas, prejudicando a confiança nas autoridades sanitárias.

Durante a pandemia de COVID-19, as fakes news proliferaram rapidamente, impactando a saúde pública, a disseminação de informações precisas e a confiança nas autoridades.

Redes sociais, aplicativos de mensagens e até mesmo algumas fontes de mídia tradicionais foram veículos por onde muitas dessas notícias falsas se espalhavam e abordavam supostas curas milagrosas, teorias da conspiração sobre a origem do vírus e informações falsas sobre medidas de prevenção.

A América Latina foi uma das regiões mais afetadas pela propagação das notícias falsas sobre COVID-19, de acordo com dados do COVID-19 Infodemics Observatory, da Fundação Bruno Kessler. Neste contexto, o Brasil e o México foram os países em evidência. O presidente Andrés Manuel López Obrador, do México, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, apoiaram informações falsas, minimizando a importância do uso de máscaras faciais e contradizendo os conselhos médicos, chegando a negar a pandemia.

O fonoaudiólogo Guilherme Pecoraro, 37 anos, trabalhou na UTI e na área da enfermaria na pandemia do COVID e relatou a maneira pela qual a promoção de supostas curas sem embasamento científico levou algumas pessoas a ignorar medidas comprovadamente eficazes. “O uso de medicações sem evidência como proposta de tratamento, a falta do uso de máscara, a aglomeração de forma ilegal e a negação de que estava acontecendo uma pandemia no país aumentaram a contaminação do vírus entre as pessoas e o número de hospitalizados cresceu de forma desnecessária”, ressalta Pecoraro.

A confiança nas autoridades de saúde também foi abalada pela disseminação de fake news. Pesquisas no artigo “Fato ou Fake? Uma análise da desinformação frente à pandemia da Covid-19 no Brasil”, da autora Cláudia Pereira Galhardi , mostram que as notícias falsas recebidas entre 17 de março e 10 de abril de 2020 revelam que 65% delas ensinavam métodos caseiros para prevenir o contágio da Covid-19; 20% mostravam métodos caseiros para curar a doença; 5,7% se referiam a golpes bancários; 5% faziam menção a golpes sobre arrecadações para instituição de pesquisa; e 4,3% diziam respeito ao uso do novo coronavírus como estratégia política.

A médica Lígia Silva, 27 anos, atuou no Hospital Municipal Universitário de Taubaté, cidade do interior do Estado de São Paulo, e relatou que os pacientes tinham atitudes agressivas quando não recebiam uma receita com medicações divulgadas nas mensagens que recebiam - como ivermectina, azitromicina ou hidroxicloroquina. “Primeiramente eu tentava conversar com o paciente e desvincular a doença da política, sanando as dúvidas quanto ao processo da doença e fornecendo orientações baseadas em comprovação científica, mas era muito difícil ter esse diálogo”, salienta a médica.

O compartilhamento de notícias falsas tem 70% mais chances de viralizar do que as notícias verdadeiras, conclui um estudo conduzido por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology. De acordo com a pesquisa, cada postagem verdadeira alcança, em média, mil pessoas, enquanto as falsas atingem de mil a 100 mi.

Apesar dos desafios, várias iniciativas foram implementadas para combater a disseminação de fake news durante a pandemia. Plataformas de mídia social intensificaram seus esforços para remover conteúdo falso e direcionar os usuários a fontes confiáveis de informação. Além disso, campanhas de conscientização foram lançadas para educar o público sobre como identificar e evitar a propagação de fake news.

As fake news representaram uma séria ameaça durante a pandemia de COVID-19, minando a saúde pública e a confiança nas autoridades. No entanto, a análise de dados de pesquisas sugere que medidas de combate estão ajudando a mitigar esse problema até os dias atuais. É fundamental continuar a promover a educação e a conscientização sobre a importância de fontes confiáveis de informação para proteger a saúde e o bem-estar durante crises de saúde pública.


Em nossas matérias destacamos como a psicologia pode explicar o fenômeno das fake news na Saúde, além da análise de casos marcantes na História em que notícias falsas foram veiculadas como a pandemia da COVID-19.
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